segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Receita de paz para um Ano Novo

Arte visual: Rita De Blasiis
Um súbito desejo de recolher o vento lá fora
me assaltou a alma...
No dia primeiro deste ano que me espreita
o som do vento não me acalma,
suscita o velho encantamento dessas coisas
leves que não podemos reter:
elas nos visitam e vão para onde
não se sabe quando...
Ontem, o céu chorou o dia inteiro, 
houve um tal silencio tão profundo
que me fez ouvir os mortos...
Todos os mortos da minha vida
que passaram pela minha alma
deixando o vazio do desamor inquieto.
As últimas gotas da chuva do 
trigésimo primeiro dia do mês de dezembro
de 2017 caíram dos meus olhos agora. 

(o tudo que se foi é nada e aquilo que 
não fizemos continua o nada que não foi , 
e o que resta é o intenso desejo de que 
nos venha habitar a semente do amanhã capaz de dar frutos perenes e flores ternas 
que preencham o imponderável com o seu aroma para todo o sempre)

O vento recolhido nas palavras 
- circunspecto poema - parte, 
levando a esperança toda desse dia:
o dia que amanheceu, apesar de nós.
Os pássaros até agora cantam,
compreendo os seus trinados timidamente,
eles dizem em sua algazarra feliz:
- Ave, Maria! Ó Pai Nosso que estais nos céus...
2018 já tem serventia, vamos!...
Haverá perdão para todas as ofensas
porque haveremos de nos perdoar... Amém.

Rita De Blasiis

Uberaba, 01 de janeiro, 2018.

Publicado no Jornal Correio de Araxá. 

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