quarta-feira, 22 de junho de 2016

O infinito da alma na paisagem

 Ave alcíone
Desenho gráfico, Rita De Blasiis 

No dia 06 de junho de 2015, escrevi este poema em prosa:

então a criatura se levanta e te diz quem você deve ser o que deve fazer o que precisa querer e o que você está fazendo aqui neste mundo e você surpreendido por esse ser que não te é nem te escuta nem te sabe nem te ama, ouve ouve ouve houve houve um tempo dois tempos tanto tempo que a palavra dor se abre em flor e o que resta é o riso do amor porque você não se levanta e não diz:

pinta a paisagem na alma apenas e alguns amigos e amigas no silencio próprio das aves 
fitam o infinito da alma na paisagem e abrem as próprias asas rumo aos longes todos da vida,
serenos do horizonte
atrás do horizonte





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Hoje, dia 06 de junho de 2016, após o Golpe,
compreendo do que estava falando...



O primeiro ataque frontal foi dirigido à Cultura...
Uma obviedade, a arma mais perigosa: aquela que elucida, coloca a consciência das pessoas em outro patamar, abre perspectivas novas, lança seus desafios, questiona o que é obsoleto...

O artista, para ser bom, precisa fazer uma leitura delicada, incisiva, arguta mesmo, do seu tempo. Para dialogar com ele, propor algo, ter realmente uma oferta generosa e significativa a compartilhar com os seus parceiros de jornada existencial...

Estamos vivos e queremos vida em plenitude. A existência programada por outrem não nos interessa: nós decidimos para onde vamos, o que desejamos fazer. Como seremos o que aspiramos ser...

No mundo da Arte, no universo da Cultura, liberdade é essencial porque criação é um exercício do livre pensar sobre o tempo/espaço aberto do mundo.

Surrupiar a autonomia do artista, inviabilizar a vida cultural de um povo é um ato de violência certeiro, ciente do seu objetivo mesquinho.

Não nos esqueceremos disso, antes, nos reuniremos, fortes e serenos sob a bandeira da liberdade que temos de optar pela resistência.

O artista, seja ele um ator ou um literato, uma bailarina ou uma artista plástico, antecipa o futuro, vislumbra possibilidades, lança luz sobre a sombra, encontra caminhos onde não se vê passagem...

Precisamos de Arte para nutrir o nosso espírito, necessitamos desse alimento que aprimora nosso sentir, que nos confere alegria de viver, prazer de elaborar e de fruir a produção artística...

Por outro lado, o artista precisa externar sua riqueza interior, dividir com o público o que gesta em seu espírito, compartilhar o seu trabalho... Viver dignamente do que pode e deve fazer...

A negação da função, da relevância desse processo é absurda em muitos aspectos e sua desumanidade pode ser sintetizada mediante a citação de uma realidade inegável: é entre humanos que o homem constrói a própria humanidade.

Onde não há Arte, nem Cultura, não se respeita a dignidade do ser humano. Grassa a violência.

Se a matéria prima da Educação é a Cultura, como afirma o antropólogo Tião Rocha, o segundo passo, o alvo imediato a ser atingido por esse governo temerário é a Educação.

Surrupiar dos educadores a liberdade de pensar, de questionar, de produzir conhecimento, impedir a leitura do mundo, da realidade é essa a intenção? Com qual finalidade?

Não somos massa de manobra, a reação dos educadores haverá de se integrar ao contexto de resistência do povo brasileiro.

Cada professor tem um compromisso consigo mesmo, com cada aluno e sua família, com a sua comunidade escolar, com o futuro do Brasil. Se o artista desempenha um papel de educador social que convida à reflexão o seu público, mediante o seu trabalho, o professor também atua nesse sentido, exerce o seu ofício como uma arte, por meio da qual promove o desenvolvimento do seu público-alvo também.

O espaço e o tempo onde se exercem essas artes são distintos, mas, são momentos e lugares, sim, onde as pessoas aprendem a viver bem e a conviver melhor. Educação e Cultura se complementam, uma não pode prescindir da outra. Nesse momento histórico tenebroso que vivemos, de absurdidades e de incertezas, a união dessas forças é urgente e necessária. Para que se faça luz sobre o caminho a seguir, a partir da decisão coletiva de lutar pelos nossos direitos humanos e sociais. Os Direitos inalienáveis de todos e todas nós. Artistas e público. Educadores e educandos. Brasileiros e brasileiras em nosso país, em uma sociedade livre, justa e solidária.

Rita De Blasiis
Uberaba, 02 de junho de 2016. 

domingo, 19 de junho de 2016

A chancela da compaixão

O artigo "O perigo facista", publicado em Congresso em Foco (UOL), por Ricardo de João Braga, doutor em Ciência Política, foi apresentado nestes termos:
Vista aérea da Universidade de Brasília, 
invadida por manifestantes de extrema-direita,
portando bombas caseiras, arma de choque e cassetetes.

A invasão da UnB por covardes, armados com bomba caseira, é fato gravíssimo, que merece a repulsa do governo e da sociedade. Trata-se de “agressão frontal” às bases da ordem democrática prescrita pela Constituição, destaca cientista político. Aqui temos um importante trecho do artigo, em que seu autor, Ricardo de João Braga, faz um alerta:

"Diante do gigantesco atentado à civilidade, é preciso conclamar as pessoas sensatas a permanecerem alertas contra esse perigo crescente, para o quê é preciso entender a ameaça. A invasão da UnB e a agressão gratuita a alunos não são vandalismo e transgressões menores, são sim um ataque às estruturas da sociedade brasileira, uma agressão frontal a valores e instituições que fundamentam a vida em sociedade como prescreve a Constituição Federal de 1988 e como a grande maioria da população vive e pretende viver".

A leitura do artigo completo pode ser viabilizada pelo acesso a este link:
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/o-perigo-fascista/

Ricardo de João Braga atualiza o conceito de fascismo e expõe com clareza o risco que estamos correndo no Brasil. Essa leitura precisa que faz do fato ocorrido na UnB em relação ao nosso contexto político, partindo de um cientista, é qualificada e digna de respeito, ao menos no aspecto da necessária reflexão, mesmo que seja para depois, discordar de suas observações. Todavia, se tal leitura partir de uma percepção de senso comum, emitida por uma pessoa também comum, apesar de apresentar igual teor e de antecipar-se ao contexto político nacional em curso, poderá não ser digna do mesmo respeito ou consideração.
Tal desrespeito ou mesmo, desconsideração, compreendemos, é opção que qualquer pessoa pode manifestar. Mas, também, ressaltamos, por outro lado, que a barbárie se instala quando a impiedade ordena as posturas e determina as atitudes. Então, o cidadão que identifica a realidade política é deixado à mercê do fascismo e da violência que caracteriza esse radicalismo político. É o indivíduo, de certa maneira, abandonado por aqueles que se omitem quando poderiam e deveriam intervir para evitar o mal. Os indiferentes e os omissos assim se posicionam por qual razão? Depois que a página histórica da desgraça real estiver escrita, será fácil encontrar as razões.
Entretanto, se possível for evitar o mal, antes que aconteça, cumpre-nos fazê-lo, desde que tenhamos boa vontade e lucidez para identificá-lo em seu nascedouro. E haverá, sim, quem simplesmente não queira ou mesmo não consiga realizar essa leitura da realidade política. Isso não o isentará, no entanto, da responsabilidade pelo suceder dos fatos. O contexto histórico permeia nossas vidas e está em nossas mãos o destino de nossa nação, destino que não se constrói sem a participação do povo. Seja qual for a decisão da população, escolheremos e sofreremos, sempre, as consequências dessa escolha.
Alinhar-se aos que sofrem, portanto, exige sacrifício, coragem. A face cruel do fascismo não se revela facilmente para aqueles que, de alguma forma, já estão sintonizados com essa maneira de entender o mundo e de estabelecer relações de poder, fazendo valer a sua vontade política e sobrepujando à necessidade da maioria, os seus próprios  interesses.
A nossa grande esperança, contudo, é a de que os que detêm as necessárias condições para intervir e apoiar a luta anti-fascista, o façam, percebendo a tempo, as sutis artimanhas da extrema-direita e da direita. A esquerda antecede o comunismo e defende o trabalhador, as classes populares. Os termos "direita" e "esquerda" têm sua origem na Revolução Francesa. O reducionismo, nessa questão, convém tanto à extrema-direita quanto à direita: associam "comunismo e esquerda" e, em uma manobra espetacular dos americanos, vão mais longe, associam "esquerda, terrorismo e Islã".
Esse processo atinge em cheio quem não recebe informações elucidativas, fundamentadas, fora do circuito da mídia golpista. A ausência de informação sobre a realidade dos fatos e de reflexões aprofundadas coloca os indivíduos à mercê do movimento fascista. Aderem sem saber a que estão aderindo, têm sido uma ocorrência natural a descoberta de amigos e parentes fascistas em nossos círculos de relações sociais.
Propor elementos que cooperem na difusão de informações e de textos elucidativos, portanto, é uma obrigação nossa. Ler e meditar constantemente, mais ainda. Ouvir, também, atentamente as pessoas, dialogar com elas, ponderar seus argumentos e contrapor outros. Sobretudo, aplicar a tudo a chancela da compaixão. Essa, talvez, só seja reconhecida como válida e indispensável por quem não obteve compaixão. Naturalmente, esse indivíduo prosseguirá na luta, tentando, sem parar, advogar essa causa.
Se a maioria do povo brasileiro é pobre e precisa da assistência do Estado, se a Constituição da República Federativa do Brasil deve ser respeitada, se queremos viver em um país com um regime democrático, então, precisamos escolher coerentemente aqueles que nos representam e defendermos aqueles que optam pelo que é justo para uma sociedade que explicita em sua Constituição (Art. 3) exatamente isso: a aspiração de ser justa, livre e solidária.
A coragem de ser e de agir, visando o bem comum, não é o signo dos que preferem delegar responsabilidades, acusar sem provas, argumentar sem fundamentos teóricos coerentes e dignos, atuar movidos pelo calor das paixões, desrespeitando o semelhante. Os contextos históricos são sempre desafiadores, pedem posicionamentos altruístas e convocam os indivíduos a deixarem de lado seu egoísmo, mergulhando no coletivo, inserindo-se com responsabilidade nesse movimento coletivo que produz a transformação sócio-humanitária da realidade.
Não mudamos o mundo isolados em espaços religiosos, orando. Mudamos mediante o nosso envolvimento sacrificial, participativo, responsável. A nossa covardia, muitas vezes, transfere para o "Deus" hipotético de nossas fantasias espirituais, a responsabilidade de socorrer nossos semelhantes nos embates das lutas terrenas. Ora, se estão tentando implantar uma guerra civil, se estão buscando consolidar a violação e a destruição de nosso tecido social, não vamos esperar assentados nos sofás de nossas residências que o ser supremo, no qual acreditamos, cumpra o nosso dever. É Ele que deve estar esperando esse comportamento de nós. Nunca agressivo, jamais violento, mas, definido e firme, de forma sensata, em favor do que é justo, social e humanamente. Se nossos algozes são movidos por ódio e ignorância, sejamos nós movidos pela lucidez e pela compaixão. É a chancela da compaixão que nos aproxima, une e fortalece. Pagar o mal com o bem, e persistir, apesar de todas as dificuldades, agindo dessa forma compassiva é indispensável para não nos convertermos também, em outro momento histórico, em futuros algozes.
O último parágrafo, no entanto, não se dirige aos que não têm religião, naturalmente. Significativa parte da população que exerce sua cidadania é formada por indivíduos que não norteiam suas ações em função de princípios desta ou daquela modalidade religiosa. Assumem suas responsabilidades como cidadãos críticos e participativos, movidos por convicções que se fundam simplesmente na consciência que têm da dignidade humana e do dever que lhes compete e reconhecem, de lutar pelos semelhantes em sofrimento.

Rita De Blasiis
Uberaba, 19 de junho de 2016.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Por qual motivo nos mobilizarmos?

Foto: Rita De Blasiis

É razoável esse questionamento? 
Penso que sim. E considero...
Se o indivíduo está em uma situação confortável... Se não sente falta de nada, se alimenta bem, reside em uma casa adequada, pode adquirir todos os produtos que necessita para viver e se, sobretudo, os adquire dentro do contexto imaginário daquilo que ele mesmo define como "necessidade"... Se paga um plano de saúde; se costuma viajar sempre que precisa ou simplesmente deseja... Se frequenta bons espaços culturais e pode adquirir obras literárias, científicas, produtos culturais e assim por diante...
Provavelmente, esse indivíduo não vai sair de sua casa para protestar! Vai se alinhar aos semelhantes, por indiferença, por insensibilidade social, ou mesmo, pelo eventual e, quiçá, contraditório despreparo para uma leitura crítica da realidade social e política. Por diversos motivos, enfim, vai se posicionar e se unir aos que se omitem ou aos que se opõem à prevalência da Democracia.
"Estado de Direito" é um conceito que não domina, algo que não o afeta. Está inserido em um contexto socioeconômico em que simplesmente paga pelos seus direitos humanos. Em função disso, já tem garantidos os seus direitos sociais.  
Existe um motivo, entretanto, que torna inquestionável a necessidade de mobilização desse cidadão, mesmo em seu conforto, em sua tendência à alienação: o sentimento de compaixão.
A realidade contundente definida pelo governo interino de Temer aponta já, com absoluta clareza, para a retirada dos direitos dos trabalhadores, para a negação dos direitos humanos, e avança em direção à instalação de um regime nazi-fascista no Brasil, que atinge, logo em primeira instância, a Educação.
O povo brasileiro - a maioria dos setores mais pobres - está sendo flagelada mediante a extinção dos ministérios dedicados a temas sociais, culturais e científicos, sobretudo, mediante a extinção dos Programas Sociais do Governo Dilma Rousseff.
O golpe parlamentar, portanto, parece não atingir quem está tão bem, mas, fere milhões de brasileiros. A perspectiva de futuro que se delineia com esse golpe, pode até privilegiar o enriquecimento dos mais ricos, manter a impunidade dos políticos corruptos, viabilizar a continuidade da sonegação de impostos da elite brasileira. Mas, as crianças e jovens filhos dessa geração privilegiada que apoia o golpe e se omite, não vai mudar de país. Todos terão que sobreviver nesse Brasil colônia que está se formando em função das iniciativas todas, desse governo interino.
E os filhos da maioria pobre, então, que futuro terão? Um jovem espírita me explicou que "Jesus está no comando, não precisamos fazer nada"... Indaguei a ele se Jesus vai assumir a Presidência da República Federativa do Brasil e fazer o nosso dever de casa para nós. Essa, em nosso entender, é a postura mais impiedosa de todas! É como ver alguém se afogando e dizer-lhe: Deus vai te amparar! - e ficar, simplesmente, assistindo a sua morte.
O sentimento de compaixão e a manifestação de solidariedade é uma razão forte para nos reunirmos, juntarmos nossas forças e lutarmos pelo Brasil que queremos, justo e soberano, plural e multicultural, livre para ser, na plenitude de sua identidade cultural e política, um país fraterno e feliz onde todos lutam por uma vida digna para todos.
Se existe política no mundo, é para aprendermos a exercer a nossa vontade política, é para vivenciarmos essa experiência com discernimento e responsabilidade, aplicando nesse exercício, todos os componentes éticos, morais que elegemos como referência nossa. Não estamos tentando afirmá-los em nossas próprias vidas?Obviamente, a religião não é mediadora entre a sociedade e o Estado, como um partido político. Sua função é outra e é, em suas particularidades, restrita também aos que compartilham a mesma fé. Isso não significa, porém, que o o indivíduo, por pertencer a esta ou aquela religião, está eximido de cumprir o seu papel com dignidade enquanto cidadão.
Participação que explicita e colabora para a afirmação da vontade política coletiva, em favor do bem comum, é importante para oferecer, aos que tomam o poder pela força, a visão clara do que pensa, do que espera, do que é capaz, o povo que se expressa. Não nos respeitam aqueles que foram eleitos como nossos representantes? Não falam, nem agem em nosso nome?  Violam nossos direitos humanos, sociais e civis? Então, falamos e agimos, nós! Não nos escutam, não dialogam? Vamos às urnas!
Essas são etapas da vida política de um país que precisam ser cumpridas, vividas intensamente por todos nós. Senão, não há esperanças, nos submeteremos todos, sem queixas, aos desmandos, à crueldade dos governantes e nos calaremos diante da opressão, do sofrimento de nossos irmãos, no Brasil inteiro. 
Releiam os 4 Evangelhos, caros amigos e amigas, uma leitura preciosa do ponto de vista filosófico, como referência para nossos questionamentos e reflexões.  Pesquisem: quantos doutores da Lei, fariseus hipócritas, homens ricos, Jesus curou? Ele os rechaçou sempre que vieram argui-lo com más intenções; repeliu e respondeu objetiva e duramente aos que se consideravam autoridade para julgar e punir com impiedade; chegou até, a entrar no templo com um chicote, derrubando as mesas dos cambistas... Solicitou ao jovem rico que o queria seguir, que vendesse tudo, desse aos pobres e depois viesse se apresentar como servidor de sua causa, realmente capaz de se sacrificar por ela... 
Jesus fez uma clara opção pelos pobres, pelos humildes, pelos pecadores, pelos doentes. Foi para eles o seu ministério. Estavam abertos às suas palavras, aos seus ensinamentos porque sofriam as consequências do mal que semearam. Libertos dessa situação de sofrimento, se orientaram em direção a outra forma de conduta na vida. Compreenderam o que é perdão e solidariedade no momento em que precisaram de ajuda e foram auxiliados.
Os fariseus hipócritas, os doutores da Leis, a elite dominante à época, no entanto, se uniu, articulou um plano para incriminar Jesus, e o condenou sem culpa. Note-se que contra ele, mobilizou-se a mesma população que ouviu e testemunhou os seus ensinamentos e foi, sobretudo, extraordinariamente beneficiada com a obra do Cristo. Jesus foi classificado como criminoso e morto, entre ladrões! Sabe-se bem, que aqueles que articularam esse plano sórdido, não voltaram atrás. E é fato: prosseguem, sempre.
O contexto histórico muda, o cenário se transforma, mas, os personagens e a trama sempre se repetem. Quem teve a chance de participar da defesa de Jesus naquela época? Quem teve coragem para se posicionar e argumentar em favor dele? Não se lamentem por isso, entretanto...
O momento atual não é um acaso...
A vida sempre nos oferece uma nova oportunidade para refletirmos, nos posicionarmos e agirmos!

Fraterno abraço,
Rita De Blasiis

Uberaba, 17 de junho, 2016.

Esse texto foi elaborado no dia 09 de junho, véspera do Dia Nacional de Mobilização Contra o Golpe.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Exercício de esperança

Na próxima eleição, convém pensar nisso,  vai haver uma participação do povo brasileiro como nunca vista...Em outros termos, a batata dos golpistas está assando! Estão nos desafiando. E de certa forma, convém também meditar, nós é que somos responsáveis por isso tudo que está acontecendo no país... Digo “nós” porque, não é difícil concluir que, estamos arrolados na maioria que vota sem se imiscuir no movimento político. Votamos, na maioria dos casos, alheios ao contexto todo que envolve o candidato, muitas vezes, nem sequer conhecemos o seu caráter, suas verdadeiras crenças, a que senhor ele serve, afinal...
Dá nisso. Um sustão! Um horror! Indignação que não acaba mais... Então, vamos meditar e fazer a nossa mea culpa também... Vamos, sobretudo, aprender a votar, não é? Esse é o desafio que a História nos propõe. Vamos participar mais, assumirmos nossas responsabilidades.
E assumi-las, sim, antes que seja tarde demais, porque até nisso, existe um risco grave. Vivi 20 anos de minha existência em um regime militar, a Ditadura que sucedeu ao Golpe de 64... Agora, indago: quantos anos serão necessários para reverter esse quadro atual? Quantas décadas? Não estou sendo pessimista, não. Se com uma esquerda insipiente, sem mobilização social de norte a sul, com Ongs, sindicatos de trabalhadores, movimentos sociais e tudo o mais, naquela época, aplicaram uma repressão violenta... Se foram necessários 21 anos para sairmos da Ditadura militar e retomarmos o nosso regime democrático... O que você acha que eles vão fazer agora?
Lembre-se bem do direito ao voto que nos cassaram, das manobras todas para impedir que a esquerda avançasse e crescesse... 
Mas, não adiantou. Ela cresceu, na clandestinidade, no processo de resistência mesmo e acabou tomando o poder. A esquerda brasileira, mais pontualmente, os Governos Lula e Dilma construíram um Brasil nunca visto, mediante uma forma de governar que definiu políticas públicas voltadas para as reais necessidades da maioria do povo brasileiro. Nós somos testemunhas do que aconteceu em 13 anos. Quem não quer ver... Não veja. No entanto, quando tudo acabar de ser retirado, direitos humanos e sociais, quando terminarem o desmonte do governo do PT, quando negarem as conquistas sociais das últimas décadas, aí todos vão acordar no inferno de 30 anos atrás no país.
O que estamos vivendo é um retrocesso, sim. Engatamos uma marcha ré e, celeremente, estamos indo de volta para o passado. Tem também quem gosta de viver no "antigamente da vida", são os preconceituosos, machistas, paternalistas, patrimonialistas, fascistas, enfim, os golpistas que se juntaram para restabelecer as primazias da elite, da Casa Grande, para encerrar o povo na senzala.
Entretanto, não estamos em 1964, ou 68, ou em qualquer outro momento histórico de um tempo que se foi. Estamos em 2016. Não é este o século 21? Todos nós que habitamos esse tempo/espaço novo do Terceiro Milênio, haveremos de afirmar essa realidade mediante nossa presença. Uma presença em sintonia democrática, lúcida e com competência para manifestar a nossa vontade política. Não importa quanto tempo dure a batalha. Importa não desistir do combate. Resistir juntos: todos e todas nós.
O desafio que a História está nos fazendo, pede que respondamos propositivamente, como nos diz Bernardo Toro, quando isso acontece, o país se converte em nação. Então, o que vivemos agora, historicamente, é um exercício de esperança. 


Foto: Marcos Lima

Acreditamos e nos dedicamos à construção do nosso futuro. Do futuro que escolhemos, queremos. Não - e não, de forma alguma -  o futuro negro que querem nos impor. 
Fazer brilhar o Sol da Liberdade em raios fúlgidos é um compromisso que aprendemos a cumprir e a cantar. Nosso exercício de esperança é persistente e feliz por persistir nessa resistência. 
Ao cotidiano e às urnas, vamos pois!

Rita De Blasiis
Uberaba, 15 de junho, 2016.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Vamos juntos

Dia 02 de junho chorei pelo Brasil e pelo povo brasileiro. 
Chorei por muitos motivos que estão mobilizando nossa gente e nos sensibilizando profundamente.
A percepção de que entramos no Estado de Exceção no dia 18 de abril não é uma sensação, uma observação formal de algo acontecendo... É uma constatação.
Essa situação que estamos enfrentando é inédita. Não se trata do Golpe de 64. O contexto é outro e as medidas de repressão são outras. O que estão fazendo designa-se como tentativa de violação e destruição do nosso tecido social. Levar o país a um confronto ideológico, desestruturar o Estado, empobrecer a população, negar os direitos sociais e humanos, acabar com a CLT? Querem nos levar a um estado de miséria, de abandono pelo poder público... E conseguiram não somente a adesão de políticos e de empresas, e da mídia e das religiões fundamentalistas... Obtiveram o aval da Justiça! Até o STF está no jogo de desmonte do país, aviltando a nossa soberania, a dignidade do Brasil perante as nações do mundo todo.
As forças internacionais de direita e extrema direita que estão financiando, planejando e executando a farsa do impeachment estão dando um Golpe no país, sim.
Mas eles se esquecem de que nós somos 200 milhões de brasileiros e brasileiras contra 55 senadores e 513 deputados. Precisamos nos unir e acabar com isso, o mais rápido possível. De forma pacífica, sensível e inteligente, com a criatividade que nos distingue, sempre. E vamos conseguir!
Meu sentimento de indignação foi registrado em uma foto. Vivi 64 anos e posso afirmar que esse sentimento é o mais doloroso da minha vida, sim. A audácia desse Golpe é uma coisa afrontosa, absurda e o intento dessas pessoas é por demais vil, muito mais do que em 1964, mais do que vivemos em 20 anos de Ditadura.
Espero, no entanto, que possa cooperar de alguma forma, em defesa do meu país e de minha gente, do nosso futuro, do futuro de nossas criança e jovens.
Essa esperança me move em direção aos corações esperançosos do Brasil . Vamos juntos!

Rita De Blasiis
Uberaba, 04 de junho, 2016.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

POIS É!

POR QUÊ SERÁ?

E você, por quê concorda? 
Bah! E tem quem até hoje nem sabe quem é o Cunha!
Ai... o truque da "bandeira vermelha" pegou tanta gente boa e a alojou numa trincheira onde vale tudo em termos de incompreensão, impiedade, e de crueldade exercida sem pejo...
Onde uns lutam pelo estabelecimento do diálogo e da convivência pacífica, em nome do bom senso, do respeito à dignidade humana, do reconhecimento da humanidade do outro, da convivência com a diferença, da distribuição justa da renda, da opção pelos pobres, não tem religião mobilizando as pessoas. Prevalece o senso de justiça social, a convicção democrática...
Onde lutam os religiosos fanáticos, prevalece a insensatez, a exclusão, a perseguição e a criminalização dos movimentos sociais, os privilégios de classe são exacerbados, a Lei se converte em instrumento político-partidário para beneficiar interesses de empresas e afins, as oligarquias se unem para negar a Constituição: o povo não tem vez e a sua voz não é mais ouvida...
Pergunto eu, onde estão os comunistas mesmo, com seu Estado totalitário? Onde estão os fascistas violentos que agridem sem fundamentos? Onde os nazistas que anunciam a raça pura, branca?
Gente, presta atenção!!! Por enquanto, todos podem se manifestar, mas... agosto vem aí, com seu dia 6, o dia da Abertura da Olimpíada e, coincidentemente, o dia do lançamento da bomba atômica em Hiroshima.
Não estão entendendo, não? Não acompanharam as sequencias de datas em que o Brasil viveu os piores momentos históricos do Golpe Parlamentar de 2016?
Quem planejou isso tudo está se divertindo muito com as datas escolhidas. É um deboche declarado. Não perdi nenhuma!...
Se vocês perderam as datas e o que elas significam na história do Comunismo, da esquerda no Brasil e no mundo, não percam a chance de se alinhar aos que lutam pelo que é justo e digno de se lutar.
Não somos comunistas. Somos solidários, comunitários, humanitários.
A esquerda era o lado do Parlamento francês onde se reuniam os políticos que defendiam o povo e os trabalhadores.
À direita ficavam os que defendiam os ricos e os patrões.
Tem certeza de que você odeia a esquerda, amigo, amiga? Provavelmente, não sabia disso. A esquerda não é russa, a Democracia nasceu na Grécia, 500 anos antes de Cristo. Quem contou pra você a história do Comunismo e da esquerda não explicou direitinho. Dessa confusão, nasce o problema maior. Identitário. Você pensa de um jeito, compreende as coisas de outro e se alinha a quem não vai te defender. Quando você acordar, a bomba H já explodiu no seu país, cuidado!
Abraço forte,
Rita De Blasiis

Uberaba, 13 de junho, 2016.

A imagem acima foi postada em nossa página no Facebook, onde o texto original foi produzido.