sexta-feira, 17 de junho de 2016

Por qual motivo nos mobilizarmos?

Foto: Rita De Blasiis

É razoável esse questionamento? 
Penso que sim. E considero...
Se o indivíduo está em uma situação confortável... Se não sente falta de nada, se alimenta bem, reside em uma casa adequada, pode adquirir todos os produtos que necessita para viver e se, sobretudo, os adquire dentro do contexto imaginário daquilo que ele mesmo define como "necessidade"... Se paga um plano de saúde; se costuma viajar sempre que precisa ou simplesmente deseja... Se frequenta bons espaços culturais e pode adquirir obras literárias, científicas, produtos culturais e assim por diante...
Provavelmente, esse indivíduo não vai sair de sua casa para protestar! Vai se alinhar aos semelhantes, por indiferença, por insensibilidade social, ou mesmo, pelo eventual e, quiçá, contraditório despreparo para uma leitura crítica da realidade social e política. Por diversos motivos, enfim, vai se posicionar e se unir aos que se omitem ou aos que se opõem à prevalência da Democracia.
"Estado de Direito" é um conceito que não domina, algo que não o afeta. Está inserido em um contexto socioeconômico em que simplesmente paga pelos seus direitos humanos. Em função disso, já tem garantidos os seus direitos sociais.  
Existe um motivo, entretanto, que torna inquestionável a necessidade de mobilização desse cidadão, mesmo em seu conforto, em sua tendência à alienação: o sentimento de compaixão.
A realidade contundente definida pelo governo interino de Temer aponta já, com absoluta clareza, para a retirada dos direitos dos trabalhadores, para a negação dos direitos humanos, e avança em direção à instalação de um regime nazi-fascista no Brasil, que atinge, logo em primeira instância, a Educação.
O povo brasileiro - a maioria dos setores mais pobres - está sendo flagelada mediante a extinção dos ministérios dedicados a temas sociais, culturais e científicos, sobretudo, mediante a extinção dos Programas Sociais do Governo Dilma Rousseff.
O golpe parlamentar, portanto, parece não atingir quem está tão bem, mas, fere milhões de brasileiros. A perspectiva de futuro que se delineia com esse golpe, pode até privilegiar o enriquecimento dos mais ricos, manter a impunidade dos políticos corruptos, viabilizar a continuidade da sonegação de impostos da elite brasileira. Mas, as crianças e jovens filhos dessa geração privilegiada que apoia o golpe e se omite, não vai mudar de país. Todos terão que sobreviver nesse Brasil colônia que está se formando em função das iniciativas todas, desse governo interino.
E os filhos da maioria pobre, então, que futuro terão? Um jovem espírita me explicou que "Jesus está no comando, não precisamos fazer nada"... Indaguei a ele se Jesus vai assumir a Presidência da República Federativa do Brasil e fazer o nosso dever de casa para nós. Essa, em nosso entender, é a postura mais impiedosa de todas! É como ver alguém se afogando e dizer-lhe: Deus vai te amparar! - e ficar, simplesmente, assistindo a sua morte.
O sentimento de compaixão e a manifestação de solidariedade é uma razão forte para nos reunirmos, juntarmos nossas forças e lutarmos pelo Brasil que queremos, justo e soberano, plural e multicultural, livre para ser, na plenitude de sua identidade cultural e política, um país fraterno e feliz onde todos lutam por uma vida digna para todos.
Se existe política no mundo, é para aprendermos a exercer a nossa vontade política, é para vivenciarmos essa experiência com discernimento e responsabilidade, aplicando nesse exercício, todos os componentes éticos, morais que elegemos como referência nossa. Não estamos tentando afirmá-los em nossas próprias vidas?Obviamente, a religião não é mediadora entre a sociedade e o Estado, como um partido político. Sua função é outra e é, em suas particularidades, restrita também aos que compartilham a mesma fé. Isso não significa, porém, que o o indivíduo, por pertencer a esta ou aquela religião, está eximido de cumprir o seu papel com dignidade enquanto cidadão.
Participação que explicita e colabora para a afirmação da vontade política coletiva, em favor do bem comum, é importante para oferecer, aos que tomam o poder pela força, a visão clara do que pensa, do que espera, do que é capaz, o povo que se expressa. Não nos respeitam aqueles que foram eleitos como nossos representantes? Não falam, nem agem em nosso nome?  Violam nossos direitos humanos, sociais e civis? Então, falamos e agimos, nós! Não nos escutam, não dialogam? Vamos às urnas!
Essas são etapas da vida política de um país que precisam ser cumpridas, vividas intensamente por todos nós. Senão, não há esperanças, nos submeteremos todos, sem queixas, aos desmandos, à crueldade dos governantes e nos calaremos diante da opressão, do sofrimento de nossos irmãos, no Brasil inteiro. 
Releiam os 4 Evangelhos, caros amigos e amigas, uma leitura preciosa do ponto de vista filosófico, como referência para nossos questionamentos e reflexões.  Pesquisem: quantos doutores da Lei, fariseus hipócritas, homens ricos, Jesus curou? Ele os rechaçou sempre que vieram argui-lo com más intenções; repeliu e respondeu objetiva e duramente aos que se consideravam autoridade para julgar e punir com impiedade; chegou até, a entrar no templo com um chicote, derrubando as mesas dos cambistas... Solicitou ao jovem rico que o queria seguir, que vendesse tudo, desse aos pobres e depois viesse se apresentar como servidor de sua causa, realmente capaz de se sacrificar por ela... 
Jesus fez uma clara opção pelos pobres, pelos humildes, pelos pecadores, pelos doentes. Foi para eles o seu ministério. Estavam abertos às suas palavras, aos seus ensinamentos porque sofriam as consequências do mal que semearam. Libertos dessa situação de sofrimento, se orientaram em direção a outra forma de conduta na vida. Compreenderam o que é perdão e solidariedade no momento em que precisaram de ajuda e foram auxiliados.
Os fariseus hipócritas, os doutores da Leis, a elite dominante à época, no entanto, se uniu, articulou um plano para incriminar Jesus, e o condenou sem culpa. Note-se que contra ele, mobilizou-se a mesma população que ouviu e testemunhou os seus ensinamentos e foi, sobretudo, extraordinariamente beneficiada com a obra do Cristo. Jesus foi classificado como criminoso e morto, entre ladrões! Sabe-se bem, que aqueles que articularam esse plano sórdido, não voltaram atrás. E é fato: prosseguem, sempre.
O contexto histórico muda, o cenário se transforma, mas, os personagens e a trama sempre se repetem. Quem teve a chance de participar da defesa de Jesus naquela época? Quem teve coragem para se posicionar e argumentar em favor dele? Não se lamentem por isso, entretanto...
O momento atual não é um acaso...
A vida sempre nos oferece uma nova oportunidade para refletirmos, nos posicionarmos e agirmos!

Fraterno abraço,
Rita De Blasiis

Uberaba, 17 de junho, 2016.

Esse texto foi elaborado no dia 09 de junho, véspera do Dia Nacional de Mobilização Contra o Golpe.

2 comentários:

  1. Quanta verdade e clareza! Impossível não se sentir incomodada quando se lê algo tão bem escrito. É muito bom quando alguém traduz o que a gente pensa mas não consegue expressar em palavras. Acho que estou em fase de crescimento...

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  2. Ireni, amiga, que bom te ver por aqui! Vamos juntas, refletindo, não é? Agir em paz, orar muito...

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